"Então, comeu kibe cru e sentiu a vida nascer. Desse dia em diante tomou gosto pela vida e só passou a comer..." (Trio Mocotó)



quinta-feira, 8 de maio de 2008

Depois do crime, um botequinho para relaxar

caco modula

Às vezes a Justiça tarda. Às vezes, falha.
Sentado com os amigos ao redor da mesa de um botequinho, Bida dá gargalhadas contando como fez para se livrar do castigo. “Uma rodada por minha conta”, diz vangloriando-se. Condenado a 30 anos de prisão, o mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang, em 2005, passou por novo julgamento e dessa vez foi absolvido.

O fazendeiro Vitalmiro Bastos Moura, conhecido como Bida, teria oferecido R$ 50 mil para garantir a execução do crime. Foi o que Amair Feijoli da Cunha, acusado de intermediar o assassinato, afirmou durante o julgamento do caso em 2006.

Recentemente, o tal intermediário reformulou o depoimento e isentou o fazendeiro da culpa. A nova versão da história foi decisiva para a absolvição de Bida, conforme afirmou o promotor que liderou as acusações. Há suspeitas de que Cunha tenha recebido R$ 100 mil para prestar o novo depoimento.

De qualquer forma, é importante atentar para um detalhe: bastou um dos envolvidos na história dizer que Bida era inocente, para que a Justiça o absolvesse. Nesse caso, mesmo depois de ter encontrado provas contundentes da participação de Bida no crime (lembro que ele havia sido condenado a 30 anos de prisão), a Justiça deu a anistia ao fazendeiro.

Mais de três anos após a morte da mulher que lutava pelos direitos dos produtores rurais de uma cidadezinha do Pará, os culpados riem da ineficiência da Justiça Brasileira. Riem, como muitos outros fazem em todos os cantos e botecos do país. Riem como se dissessem: “estamos prontos para aprontar mais uma vez”.

Mais de três anos após o Brasil ganhar destaque na mídia internacional, por causa da maneira brutal como a missionária foi morta, a Justiça Brasileira dá as costas aos apelos sociais pelo cumprimento das leis. Dá as costas para lutas por melhores condições de vida para os brasileiros. É como se trabalhasse pelo bem dos maus e pelo mal dos bons.

Dizem que a Justiça é cega. Eu acho que às vezes, se faz cega. Às vezes de burra. O problema é que com essa lentidão e com esse espírito de impunidade que impera entre os representantes do povo responsáveis por fazer justiça, a Justiça fica comprometida e os crimes continuam sendo cometidos. Enquanto isso, os criminosos se divertem tomando umas e outras no botequinho com os amigos, rindo, porque na maioria das vezes a Justiça tarda e falha.

8 comentários:

Finito Carneiro disse...

Nossa, Caco, esse foi o melhor texto que já li em todos os anos de Boca Livre.

Gostei mesmo! Quando eu crescer quero ser igual a você... eehehehe.

Amanda Medeiros disse...

Cacoooooooooo...(Hj vc tá so o Caco neh?Depois de tanta reflexão só a cervejada mesmo para fazer a gente pensar em "outras" coisas)
Mas, assuntos pessoais à parte, deixe-me comentar seu texto: Assim como o Finito, sem fim, eu ja tinha te dito que sou "orgulhosa" de você. Adoro seus textos e este realmente ficou muito bom.
Se as pessoas se preocupassem em refletir ao menos um pouco sobre questões como estas, certamente os assuntos nos barzinhos da vida seriam mais divertidos, hahaha quem sabe como ontem, na nossa mesa em específico.
Bjão.
Sou fã da sua BOCA uhahuahua

Unknown disse...

Eu gostei muito do texto!
Acredito que atualmene estamos vivendo uma CRISE - uma CRISE da razão como diriam alguns autores. Somos ensinados e ensimanos a não se sensibilizar com o outro - se o problema ou conflito não é "Meu", não me importo com ele (A não ser que se paguem para isso). Acho que a metáfora de ir a um barzinho para beber pode estar relacionada com os óculos escuros ou com o eclipse que nos impedem de enxergar os problemas sociais.O mundo é visto de forma fragmentada, e o reflexo disso é notório nas direntes especialidades, nos "Detentores do Saber"...na hipocrisia humana (o barsinho como o Caco diz), no descaso...

Anônimo disse...

é isso ai meu camarada Caco...muito bom! parabéns! o negocio é meter q boca mesmo...minha namorada postou antes de mim...vou meter a boca nela..rsrsrsr...abraço!!

Anônimo disse...

Tou ficando mto fã desse Boca viu.. tah valendo a pena tecer comentários hahaha..
Siguinti, acho q td faz mto sentido nesse texto. A justiça OU as pessoas responsáveis por fazê-la (pelo menos assim esperamos) escolhem "cegar-se".. afinal é mto mais prático, rápido e de quebra, conveniente.
Assim se faz a justiça "deles", para "eles". No entanto essa atitude gera apenas uam resposta "a de cada vez mais fazermos justiça c/ nossas próprias mãos". E tal comportamento vem apontando resultados catastróficos, ou seja, mais um ciclo vicioso para "decorar" o quadro atual do Brasil!

Unknown disse...

galera...mais uma vez vamos trocar idéias sobre o conceito "justiça", e não consigo parar de pensar que tudo isso é pela ineficiência do sistema democrático vigente em nosso país, misturado a má fé de funcionários públicos, ou não, nossas leis e regras de boa conduta acabam senod impostas somente àqueles que não tem condições financeiras, ou pra pagar um bom advogado, ou para fazer suborno... tomemos o caso do assassino contratado, que por 100 mil reais é capaz de abrir mão de uns dos bens mais preciosos aclamados por essa democracia "a liberdade"... será que somos realmente livres??? Pq??? Pq ainda assim, posso escolher entre viver recolhido ao meu próprio mundo ou/e absorver o discurso daqueles que acham que o dinheiro compra td mesmo, n temos como lutar contra isso??? Eu realmente acredito nas pessoas, mas já que não temos como lutar contra o sistema, não seria mais interessante manter o trabalho da missionária como foco das discussões??? Amore da minha vida...adorei o texto, isso aqui é legal mesmo, faz a gente pensar sobre as coisas, coisas que muitas pessoas pensam sobre sim, mas não expressam, depois de alguns 15 minutos refletindo em frente à tv, voltam às suas vidinhas ditadas pelo mesmo sistema capitalista democrático em que vivemos...

Anônimo disse...

Eu acho que...
ihhh, começou a novela, depois eu escrevo!

Anônimo disse...

Nossa!! É incrivel como no Pará as pessoas vivem num mundo a parte pior do que esse que estamos acostumados. Lá reina uma impunidade imensurável! Tem muitas "Dorothys" ainda vivas, mas não se sabe por quanto tempo. Recentemente veio a tona o caso da cidade de Tailândia, onde lí no Brasil de Fato (um jornal de esquerda) que funcionários trabalhavam em condições inadequadas e aqueles que se rebelavam eram ameaçados de morte. Muitos deles tavam naquela manifestação contra a ação do IBAMA pra denfenderem suas vidas, não pq de fato eram contra a aprensão da madeira. O fato é que isso me lembra de muitos casos absurdos. Gostaria de citar um livro, pra quem quiser ler, ele se chama "Plantados no Chão" e no site da "Caros Amigos" tem o download disponível, ele relata a tragetório de muitos desbravadores, inclusive a vida de Irmã Dorothy.