"Então, comeu kibe cru e sentiu a vida nascer. Desse dia em diante tomou gosto pela vida e só passou a comer..." (Trio Mocotó)



quinta-feira, 10 de junho de 2010

Caim vs. Deus: uma batalha que a Bíblia não mostrou

caco modula

Um cara com o saco roxo. Sim, no modo de dizer, que fique claro. Este é José Saramago. Primeiro veio com o livro “O evangelho segundo Jesus Cristo”, depois, “Caim”, que conta a história do filho de Adão e Eva, que mata o próprio irmão por ciúme. Pelo menos é assim que aprendemos até pouco tempo. Vem esse tal de Saramago, Nobel de Literatura, e muda tudo.

OK. Ele não muda tudo, mas muita coisa. Vamos lá. Caim sentiu ciúme, mas a culpa foi mesmo de Deus. Se tivesse Ele aceitado suas oferendas, Caim não teria matado o irmão. E ainda que o ciúme o tivesse motivado a cometer o assassinato, o Senhor poderia tê-lo impedido. E não o fez para testar o caráter do irmão invejoso.

Uma sacanagem, na opinião de Caim. Sacanagem tão grande quanto às que o Senhor comete por toda a narrativa bíblica adaptada na obra do escritor português. Vinganças, extermínios, punição a inocentes. E não existe explicação lógica para isso, apenas a resposta de que os desejos dos deuses são imperscrutáveis.

Caim passeia por muitos episódios do antigo testamento. A história vai desde a criação de Adão e Eva até o final da viagem da Arca de Noé. Passa por Sodoma e Gomorra, pela Torre de Babel, pelo Cerco de Jericó. E do começo ao fim Caim trava muitas discussões com Deus e põe em xeque até mesmo as convicções dos anjos.

Se antes Saramago apresentara um Jesus tão humano quanto você e eu, apesar de toda a sua divindade, agora ele mostra um Caim capaz de argumentar diretamente com Deus sobre as barbáries cometidas contra os pecadores. Chega a comparar o Senhor com um filho da puta. Pode? Saramago achou que podia e o fez. E fez muito mais: falou sobre traições, incestos e mentiras, apresentando um antigo testamento tão perturbado quanto sua própria mente é capaz de criar.

O final não chega a ser triunfante, mas “Caim” é a prova de que Saramago sabe como criar polêmicas e abalar (ou pelo menos dar umas cutucadinhas) nas convicções cristãs.

Um comentário:

Amanda disse...

Ah....parece bacana este livro, mas para ler como uma história fictícia.
Porque isso de religião mexe demais com a cabeça da gente. São mesmo muitas coisas questionáveis...mas como diz a prórpia bíblia...fé é apenas acreditar..se vc questiona, ja está duvidando.

bjim....saudades dos meus boquetes
uauhahuahu