"Então, comeu kibe cru e sentiu a vida nascer. Desse dia em diante tomou gosto pela vida e só passou a comer..." (Trio Mocotó)



quinta-feira, 3 de abril de 2008

Na fila do banco

leda nius
Quinta-feira, 14h08. Estou entrando no banco “todo seu” com a guia do parcelamento do IPVA do ano passado para pagar, dois dias após o vencimento. Sou barrada na porta:
- Verifique se há algum objeto de metal – pede o guardinha.
Tiro chave de casa, da moto, celular, outro celular, presilha de cabelo, clipes... Consigo entrar. Depois de recolher meus objetos, dirijo-me para a fila, onde outras 26 pessoas aguardam para pagar suas contas. Deduzo que o tempo de espera será longo, resolvo então conferir o dinheiro, recontar moedas: tudo em ordem. O calor quase insuportável e a demora pela espera começam a incomodar as pessoas e a mim também. Passo então a mexer no celular - um modelo pré-histórico que comprei porque estava em promoção, e, como toda mulher, não resisto a promoções.
Relatando o quadro onde me encontro, envio uma mensagem para um amigo meu que odiaria estar no meu lugar naquele momento, e certamente reclamaria horrores (na verdade todos odiariam): “Pobre quando quer pagar conta é barrado na entrada do banco e quando entra tem que ficar numa fila imensa, talvez por isso haja tanta gente desonesta no mundo. Bjo, saudade.”
Rio dos meus pensamentos e observo uma senhora loira passar a frente de todos os cidadãos comuns como eu que enfrentaram fila. Indignado, um senhor de meia-idade (ou melhor, idade inteira porque ele devia ter seus 70 e tralalá) questiona a algum sujeito oculto sobre a ousadia da cidadã.
- Por que está cortando fila? – pergunta ele para ninguém...
Ao mesmo tempo em que ele procura um destinatário para sua pergunta, a senhora (corta-filas) conversa com a mocinha que ficou atrás dela:
- Obrigada por guardar meu lugar – justifica-se em voz baixa, sem que as outras pessoas pudessem entender o que estava acontecendo.
-Porque está cortando fila? – dirige-se o senhor de meia-idade agora àquela senhora.
- O senhor está por acaso falando comigo? – pergunta arrogantemente a loira “obrigada por guardar meu lugar”.
-É com você mesmo... Está cortando fila. – o tiozinho está nervoso.
-Meu senhor, você não sabe de nada – diz a moça querendo encerrar assunto.
-O que sei é que você é sem educação – esbraveja o senhor.
Sem nada poder fazer e preferindo não falar nada para evitar me desgastar dando explicações sobre tal situação, continuo no meu silêncio gritante, e conto as pessoas que estão à minha frente para “distrair” – agora são 13 – metade do tempo de espera se foi.
Depois que a moça foi atendida – contra a vontade do revolucionário defensor das pessoas que esperam sua vez nas filas de banco – ele continua:
- Temos que defender nossos direitos – agora ele já fala com duas ou três pessoas que começam a indagá-lo sobre o ocorrido.
- Tanto se fala hoje em direitos humanos, mas essas pequenas coisas nunca param de acontecer: é uma moça que corta a fila no banco, depois outra pessoa que desmata uma árvore acabando com o oxigênio do mundo – ele foi realmente longe nessa!
Fiquei pensando se deveria dizer que ela simplesmente havia retornado ao lugar, mas ele estava tão certo de suas certezas que preferi apenas ouvir a ter que explicar algo.
O que mais me surpreendeu não foi o fato de ficar ouvindo aquela discussão calorosa em plena tarde, quando tudo o que eu queria era ter ficado dormindo após meu almoço, mas sim, o fato de haver pessoas que ainda estão realmente preocupadas com direitos, meio ambiente e principalmente com honestidade...
Quanta gente no banco disposta a pagar conta!

2 comentários:

CAJU DOCE disse...

QUE MASSAAAAAAAAAAAAAAAA!
FOI SENSACIONAL CADA DETALHE, MESMO O PROGRAMA DA FERNANDA YOUNG DIZENDO QUE IRRITA QUEM CONTA TUDO COM DETALHES, ADORO OS SEUS, Á PROPÓSITO O AMIGO RECLAMÃO SOU
EEEEEEEEEEEEEEEEEEU!!!
SAUDOSO LEITOR DO BOCA

Amauri Martineli disse...

Uma vez, há muito tempo atrás, (porque agora faço tudo pela internet, né minha filha), eu fiquei tanto tempo na fila que, quando chegou minha vez, eu não lembrava o que tinha ido fazer no banco.
Voltei pro final da fila pra lembrar...