"Então, comeu kibe cru e sentiu a vida nascer. Desse dia em diante tomou gosto pela vida e só passou a comer..." (Trio Mocotó)



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A compra de um revólver e a Teoria do Caos

adalberto mirinda

Dias atrás, uma ficante amiga minha me disse que estava pensando em comprar um revólver porque o mundo está muito violento.

Eu só virei para ela e disse: “Você está louca?”

Ela insistiu: “Já pensou se todo mundo tivesse um revólver? Todo mundo ia ficar mais seguro”.

A ideia dela é a seguinte: todo mundo almoçando num restaurante, aí entra um ladrão e, ao dar voz de assalto, todo mundo sacaria o revólver e o ladrão ia embora sem levar um tostão sequer.

Bem, na teoria tudo é lindo. Mas na prática isso nunca iria acontecer.

Ela insistiu na ideia novamente: “Ah, mas eu vou fazer um curso de tiro, né!”

Tentei explicar para ela. “Querida, você já ouviu falar na Teoria do Caos?”

Ela fez que não com a cabeça. Mas fez um não com a cabeça mais lindo que eu já vi, que não resisti e a levei para a cama, onde fizemos amor loucamente.

Logo depois, comecei a explicar: Bem, em certo momento, a Teoria do Caos nos mostra que, por mais planejado que seja uma ação que você faça, essa ação nunca vai sair do jeito que você planejou. Nunca!

Ela não entendeu.

Eu dei um exemplo: “Imagine a seguinte cena. Um passarinho está num muro, ele bate as asas 15 vezes e voa até uma árvore. Nesse trajeto ele levou 3 segundos. Algum tempo depois, outro passarinho está no mesmo muro. Esse passarinho é da mesma raça que o segundo, o mesmo peso, o mesmo tudo. Ele bate as asas 15 vezes e voa até a mesma árvore, até o mesmo galho que o primeiro. Tudo igualzinho. Só que ele levou 4 segundos para fazer isso. Por quê? Se ele planejou tudinho?”

Ela não soube responder. Eu expliquei que é porque os seres vivos costumam fazer as coisas pensando em suas próprias ações, simplesmente. Os seres vivos, principalmente os humanos, não pensam no acaso, nos fenômenos naturais. No caso do segundo passarinho, quando ele levantou vôo, o vento poderia ter aumentado e mudado um pouco sua trajetória, ou mexido alguns centímetros o galho em que ele pousou. Por isso. Um simples e minúsculo fato pode mudar tudo.

Aí ela começou a entender. Eu resolvi trazer essa ideia para a nossa realidade.

“Imagine a seguinte cena: O seu curso de tiro é como? É em uma sala fechada, com ar-condicionado, você usando um fone de ouvido, com o instrutor ao seu lado e um alvo de papel para você acertar”. Ela concordou.

“Agora, imagine um ladrão entrando em sua casa à noite. O ventilador ligado, um calor insuportável, você só de calcinha. De repente, você ouve passos vindo da sala. Você acorda assustada, tremendo. Todo mundo sabe que, ao acordar, a gente demora um certo tempo até o cérebro acordar também. Aí você precisa se preocupar em levantar e colocar a roupa rapidamente. Você faz tudo isso sem saber exatamente o que está acontecendo. Abre a gaveta e pega o revólver, tremendo. Ouve passos vindo em sua direção, mas o barulho do ventilador atrapalha. Você não sabe em que pensar. Acaba dando um tiro no pé”.

Ela concordou comigo, desistiu de comprar o revólver e fizemos amor loucamente.

2 comentários:

Anônimo disse...

a parte do "fizemos amor loucamente" é verdadeira?

Anônima disse...

Eu duvido e o dó!