"Então, comeu kibe cru e sentiu a vida nascer. Desse dia em diante tomou gosto pela vida e só passou a comer..." (Trio Mocotó)



quarta-feira, 3 de março de 2010

Ah! Ah! Fogo na bomba

caco modula

Malandro que é malandro sempre segue o ritmo da favela. Mais do que isso, dita o ritmo da favela. Fechem as portas, abram caminho. A represália vai começar. Mataram um traficante e a polícia vai saber quem é que manda aqui. Peguem as armas, fiquem atentos. A guerra civil no Rio de Janeiro está declarada. E faz tempo. A violência urbana é parte do dia-a-dia do povo fluminense e tem gente que até já se acostumou a tudo isso.

As autoridades sempre dizem que estão se esforçando no combate ao tráfico organizado, mais organizado, inclusive, do que a própria polícia e do que o Estado. Mas a verdade é que há anos o governo perde essa guerra e parece não se importar. É melhor assim, com os criminosos mandando nas favelas, a polícia não se metendo nos negócios escusos morro acima e de vez em quando subindo até lá para que todos vejam que os esforços no combate à violência existem.

Quem paga o alto preço por essa política de boa vizinhança são os moradores. Nesta semana, por exemplo, os traficantes atearam fogo em um micro-ônibus deixando 13 pessoas feridas, sendo 5 em estado grave. Os passageiros não tiveram tempo de fugir e mais uma vez os malandros mostraram que ditam o ritmo da favela. E daí, como é que é? Ah! Fogo na bomba. Fogo no ônibus, fogo na roupa. Fogo nos outros.

Em alguns anos, outro fogo chegará ao Rio de Janeiro. O fogo-símbolo das Olimpíadas, a tocha olímpica, acompanhado de milhares de pessoas do mundo todo, que estarão na cidade não tão maravilhosa assim para acompanhar as competições. Uma grande festa. Uma prova de que o Brasil está preparado para celebrar a paz. Mas para celebrar a paz, é preciso ter a paz.

Talvez surja um acordo velado entre uns e outros para que nos dias das Olimpíadas os malandros peguem leve. A mídia já faz a parte que lhe cabe, esquecendo de todo o resto do mundo e veiculando só o que acontece nos campos, nas quadras, nas pistas e piscinas. Os problemas sociais desaparecem, os trambiques políticos cessam. E nós ficamos felizes quando vemos o Brasil ganhar duas ou três medalhas de ouro.

Quando tudo acaba, a realidade volta ainda pior. A violência cresce, as pessoas continuam morrendo, o tráfico se fortalece e a polícia volta a perder o controle. Os otários fardados que vão se foder. O povo que vá se foder. E a política da boa vizinhança se restabelece, com ações pontuais de combate ao crime. E a gente continua vivendo como se nada estivesse acontecendo. É claro que isso é tudo especulação, afinal, o mundo pode nem existir até lá, já que algumas teorias dão conta de que o mundo vai acabar em 2012.

Aí, meu amigo, nem bebida, nem química... nada disso vai amenizar.

Nenhum comentário: